Princípios

Comunidade que Sustenta a AGRICULTURA

A CSA (Comunidade que Sustentam a Agricultura) é um movimento mundial organizado pela sociedade civil. É impulsionado no mundo todo por princípios. Como todo princípio, está contido em cada um deles a essência, o fundamento do que é uma CSA em qualquer lugar do mundo. Abaixo vamos nomear cada um deles e trazer uma breve explicação do que significa.

Apreço

Migrar da cultura do preço para a cultura do apreço é deixar de enxergar o cultivo e consumo de alimentos como um comércio, mas sim um ato de colaboração mútua e coletiva que envolve cada ser, seja agricultor ou coagricultor, em torno do trabalho em um organismo agrícola.

É como que um pensar com o coração no sentido que não está mais no foco o preço de cada alimento. O que está no foco é o que é necessário haver de cuidado com a terra para que o alimento esteja disponível. Com base nisso, não se paga por cada alimento, mas sim, pela possibilidade do alimento existir.

É o princípio que leva a um entendimento de que participando de uma CSA, cada qual está realizando a sustentação da possibilidade do organismo agrícola continuar existindo e cumprindo seu papel de ser um local de cultivo de alimentos. E além disso, ser também um local que protege a fauna e flora, a terra e o ar e toda a biodiversidade do local.

Assim, não está no centro da relação agricultor X coagricultor uma troca comercial ou de compra e venda baseado no preço de cada alimento que chega à mesa das pessoas, mas sim a sustentação das necessidades do organismo agrícola para que assim haja a possibilidade do alimento chegar até às pessoas.

ajuda mútua

É o princípio do servir às necessidades uns dos outros, fazendo uso para isso dos dons que cada qual tem que é colocado em prol do outro.

Numa CSA acontece o encontro das necessidades e capacidades de cada participante. Cada um, seja agricultor ou coagricultor, atua na CSA com aquilo que tem de dons e capacidades. E também com aquilo que traz de necessidades. Na junção das necessidades e capacidades há a formação do chamado NÓS, nesse lugar onde deixa de existir o EU e VOCÊ e passamos a pensar que somos NÓS.

Uma parceria de relação amigável. Essa parceria reside, não na negociação em si, mas numa relação de ajudar uns aos outros com base na compreensão mútua de que campo e cidade têm potenciais e necessidades diversos e que se complementam.

distribuição independente

O transporte dos alimentos do organismo agrícola para o ponto de retirada de alimentos pelos coagricultores deve ser feito de maneira independente, ou seja, sem depender de terceiros. Na maioria das vezes os próprios agricultores realizam esse transporte.

No ponto de retirada, a organização e cuidado com a partilha dos alimentos é comumente realizada pelos próprios coagricultores vinculados àquele local.

MANTER ESCALA APROPRIADA E FORTALECER ECONOMIA LOCAL

Uma CSA não tem pretensão de alimentar o mundo inteiro. O que se quer é sustentar uma comunidade de pessoas que trabalham em conjunto. E para isso, deve se ter em mente que o organismo agrícola e os agricultores irão cultivar alimentos de qualidade para uma quantidade limitada de coagricultores, conforme a capacidade de atendimento das necessidades da coletividade envolvida.

Caso essa capacidade fique além das possibilidades de sustentação, o caminho a ser seguido é o de dividir para somar, ou seja, a ideia é que a CSA que atinja a sua plenitude em termos de quantidade de pessoas envolvidas apoie a criação de uma nova CSA na localidade. Como fazem as abelhas, criando novas colmeias.

Uma CSA busca fomentar o território na qual está inserida, ou seja, geograficamente o organismo agrícola e os coagricultores vivem na mesma região. E toda a sustentação financeira que é estabelecida na relação comunitária proporciona que a economia da localidade seja fortalecida e valorizada. Os recursos financeiros ficam concentrados naquela região. Fortalecem e impulsionam toda a economia da localidade. Uma CSA presente numa região, indiretamente contribui para o desenvolvimento local, de forma sustentável e comunitária.

DIVERSIFICAÇÃO DO CULTIVO

As possibilidades de cultivo de alimentos são diversas. Muitas vezes não há diversidade no campo, pois os agricultores ficam atentos ao mercado e ao preço do que está sendo praticado. Se desvinculamos a sustentação das necessidades das relações de compra e venda e de comércio e possibilitamos que as necessidades sejam sustentadas com um apoio frequente e ininterrupto por parte dos coagricultores, os agricultores ficam livres, no melhor sentido da palavra, para explorar toda a potencialidade da terra que está sendo cultivada.

Assim, a diversidade no campo acontece de forma natural. E a diversidade no campo colabora decisivamente para a diversidade em nossas relações interpessoais, pois ao se alimentar do que é plantado na diversidade, somos levados a ter pensamentos e ações diversos igualmente.

O agricultor pode explorar a possibilidade de inserir PANC – Plantas Alimentícias não convencionais entre os cultivares. Estas são alimentos que resgatam a nossa soberania alimentar e estão mais adequadas à nossa realidade de clima e às nossas necessidades nutricionais.

Aceitar alimentos de época

Este princípio tem forte relação com o anterior, pois para termos diversidade no campo é necessário que os coagricultores estejam dispostos a compreender que os alimentos são sazonais. E aceitar o que é cultivado na nossa região e nosso território é respeitar e entender que há o tempo de cada alimento ser cultivado e colhido.

É compreender que a terra tem uma sabedoria de nos proporcionar o alimento certo para cada época e que este é adequado às nossas necessidades de vida para uma saúde plena.

Aceitar a diversidade é um exercício de entender o que vem semanalmente como um presente especial da terra.

Explorar novos cardápios com sabores e saberes diversos é um desdobramento desse princípio que embala as CSA.

Relações de amizade

O desenvolvimento contínuo desta parceria existente numa CSA proporciona o aprofundamento das relações de amizade entre agricultores e coagricultores. Com o fortalecimento da amizade, as relações de confiança se aprofundam e o tratamento entre todos passa ser cada vez mais de reciprocidade e colaboração fraterna.

Estabilidade

É caminhando que se faz o caminho! O princípio da estabilidade numa CSA vem nos trazer a ideia de que é importante que todos saibam que no início de uma CSA nem todos os princípios anteriores poderão ser atendidos. Isso se constrói no dia-a-dia.

A busca da estabilidade é cotidiana numa CSA para que a médio e longo prazo ela possa se fortalecer, continuar em funcionamento e se estabilizar, mantendo o equilíbrio de sustentação.

Gestão Compartilhada

Na CSA a gestão é compartilhada entre agricultores e coagricultores.

Claro que cada qual tem uma especificidade, um papel ou responsabilidade que mais tem a ver com aquilo que sabe fazer e com o que pode contribuir. Normalmente existe um núcleo de gestão central (que comumente chamamos de Grupo do Coração da CSA) para lidar com demandas específicas de cada CSA.

Esse grupo é composto pelo agricultor e por alguns coagricultores desempenhando atividades essenciais para o funcionamento de todo o coletivo.

O ideal é que a gestão seja rotacionada com o tempo para que mais coagricultores possam estar envolvidos.

Aprendizagem Mútua

Reconexão do campo com a cidade através do conhecimento promovido pela aproximação é o foco deste princípio. Quando se estabelecem relações de proximidade entre o campo e cidade e os entes envolvidos estão conectados, agricultores e coagricultores passam a descobrir a riqueza de conhecimento que cada qual tem.

E a aprendizagem mútua acontece de forma natural. Embora haja também fluxo de aprendizagem da cidade para o campo, a principal riqueza desse princípio está no restabelecimento do caminho da aprendizagem no fluxo do campo para a cidade. Isso traz para os coagricultores uma riqueza de saberes que, ao longo dos últimos anos de êxodo rural ininterrupto, foi perdida.